“Conhece-te a ti mesmo”
A mostra Templo de Delfos, que aconteceu no dia 19 de agosto, contou com 16 obras, todas auto-retratos. Um trabalho incrível que surgiu da parceria entre os Cooperados Jeff Duprado, artista plástico trabalhando com pintura a óleo desde 1997 e Carina Viana.
A exposição estará montada até o dia 19 de setembro no Rancho do Vale, Rua Quaresmeiras c 5. Os interessados deverão agendar a visita pelos telefones 35516378 ou 992327856.
Texto explicativo da mostra:
TEMPLO DE DELFOS
Conhece-te a ti mesmo
Pinturas de Jeff Duprado
Curadora Carina Viana
Porque a natureza não somente deu ao ser humano a voz e a língua para serem os intérpretes de seus pensamentos, mas desconfiando de que ele pudesse abusar delas, ainda fez falar sua fisionomia e seus olhos para desmenti-las quando não fossem fiéis. Numa palavra, a natureza estampou toda a alma do ser humano no exterior e não há nenhuma necessidade de janela para ver seus movimentos, suas inclinações e seus hábitos, porque tudo isso aparece no rosto e nele está escrito em caracteres bem visíveis e bem manifestos.
MARIN CUREAU DE LA CHAMBRE
“Ao observar um retrato nos colocamos como observadores facilmente dominados pelo desejo de conhecer melhor o ser retratado, a fisionomia retratada fala, fala do corpo e de suas emoções. Cria-se um diálogo entre imagem e a superfície anatômica, onde encontramos indícios do caráter das paixões e dos silêncios contidos no olhar.
A arte do retrato baseia-se na existência de um fundamento antropológico muito antigo: nas bases da fisiognomia estabelecidas pela antiguidade greco-romana, depois através das tradições da Idade Média ocidental sistematizou-se pouco a pouco a ligação entre o exterior e o interior do ser humano, entre o que é percebido no sujeito como superficial e profundo, mostrado e ocultado, visível e invisível, manifesto e latente. Entre o rumo da alma – caracteres, paixões, tendências, sentimentos, emoções, uma natureza psicológica… e o domínio do corpo, sinais, traços, marcas, traços físicos. O que vêm exprimir as metáforas nas quais se reconhece este paradigma da expressão humana que atravessa e religa esses domínios fragmentados do saber, e dos quais a “porta” ou a “janela” do coração, o rosto o “espelho da alma”, o corpo a “voz” ou a “pintura” das paixões.
Vejo esse caminho de auto observador no trabalho de pintura de Jeff, uma redefinição das suas identidades e de uma história de olhar sobre o próprio corpo, nesse exercício o encontro consigo mesmo e sua arte. Ele promove normas corporais auto impostas, descobre suas proporções e suas distorções, deformações e sua própria humanidade.
Conhece-te a ti mesmo. O domínio privilegiado da técnica nos permite a transgressão da forma, uma manipulação constante da pincelada destinada não a ilustrar mas a prolongar no aspecto, sobre o aspecto, o trabalho desconcertante das emoções e do corpo. No estudo das suas próprias semelhanças o auto retrato vai de encontro com as semelhanças do outro.
É esse convite que Jeff nos faz, conhece-te a ti mesmo através do seu próprio reconhecimento.”
Carina Viana